A ocorrência de dois abortos consecutivos ou de uma perda fetal inesperada indica a necessidade de avaliação criteriosa, evitando-se neste momento a frustração de uma nova perda
Muitas vezes aquela boa notícia de uma gestação tão desejada é interrompida por sangramentos ou um ultrassom constatando que a gestação não esta evoluindo bem. A frustação vem com a confirmação do abortamento e as dúvidas são frequentes, e pior ainda quando se trata de um segundo ou terceiro episódio.
Abortamento espontâneo é um problema que se caracteriza pela interrupção natural da gestação antes da 20ª semana ou do feto atingir meio quilo. Dra. Tânia Balcewicz, da Plena Fértile, esclarece alguns fatos importantes referentes aos dois tipos mais frequentes de perdas de gestacionais
1 - Aborto eventual
É um evento isolado que acontece em até 85% dos casos devido a um erro de cromossomos, no óvulo ou espermatozoide, ou mesmo na formação deste embrião. Os abortos espontâneos isolados nos seres humanos são comuns e não indicam avaliação mais aprofundada, pois possivelmente a própria natureza esteja evitando o nascimento de crianças com alterações e protegendo estes casais. São mais frequentes conforme a idade da mulher aumenta. A incidência é de 10% nos casais jovens e 30% em mulheres de 40 anos. Estudos também confirmaram a incidência maior de abortos nos casais com homens de mais idade.
É evidente que exames básicos antes da gestação acontecer, ou bem no início desta, devem sempre ser analisados, não se observando alterações.
2 - Abortos recorrentes
Dos casais em idade fértil, de 2% a 5% deles sofrem com os abortos de repetição, um problema que se caracteriza pela interrupção natural da gestação antes da 20ª semana ou do feto atingir meio quilo.
A ocorrência de dois abortos consecutivos ou de uma perda fetal inesperada indica a necessidade de investigação e avaliação criteriosa das suas causas, evitando-se neste momento a frustração de uma nova perda. Geralmente essas condições têm que ser tratadas antes que a paciente consiga ter uma gestação completa.
3 - Quais as causas das perdas fetais recorrentes
Entre as causas podemos encontrar alterações genéticas que os pais herdaram (mesmo que não tenham nenhuma alteração visível), alterações no útero como pólipos ou miomas, alterações hormonais na tireoide e ovários policísticos, fatores imunológicos (uma espécie de rejeição ao componente paterno do embrião), infecções maternas não detectadas, e ainda problemas de coagulação (SAFA ou as trombofilias) que impedem a boa formação da placenta e boa circulação para o feto, estas também podem ser responsáveis por pré-eclampsia e óbitos fetais inexplicáveis. Outros fatores podem estar envolvidos como peso inadequado, álcool, cigarro e outras drogas. O essencial é investigar e esclarecer antes de tentar nova gestação
4 - Como tratar as causas mais frequentes de abortamentos
Atualmente, não se espera mais a mulher ter a história de três abortamentos para fazer a avaliação, já que muitas podem se beneficiar e prevenir o terceiro aborto. Mulheres com história de dois abortamentos consecutivos ou uma perda fetal inesperada devem fazer uma avaliação mais criteriosa e, se possível, um tratamento personalizado. Problemas uterinos podem ser resolvidos com cirurgias, alterações hormonais devem ser controladas, tromboses podem ser evitadas com medicamentos. Cerca de 65% dos casais com abortamento de repetição conseguem ter um bebê saudável, após tratamento adequado.
5 - O que pode auxiliar na redução dos riscos de novos abortos?
Casais que sofrem com abortamentos de repetição, após buscar ajuda médica especializada para diagnóstico e tratamento dos fatores resolvíveis, podem se beneficiar de suporte psicológico adequado. Hábitos de vida saudáveis como exercícios físicos regulares, alimentação adequada para atingir o peso ideal, parar de fumar, evitar uso abusivo de álcool e café, além da suplementação de ácido fólico, são medidas importantes antes de uma nova tentativa para engravidar.
A incerteza das causas dos abortamentos, somada ao potencial risco de uma nova perda e receio de outra frustração, pode levar o casal a desistir da gravidez, sem ter sequer feito a avaliação necessária. Nestes momentos, deve-se ter cuidado com medidas supersticiosas e tratamentos sem embasamento científico, que podem estressar ainda mais o casal. Dra. Tânia ressalta que é de fundamental importância o apoio psicológico para a conclusão da investigação e indicação do tratamento adequado, que permitirá a superação do problema e finalmente o “Bebê em casa”.